É próprio do nosso tempo acreditar que tudo precisa servir para alguma coisa. Vivemos em um mundo um tanto quanto estranho que espera das coisas sempre uma espécie de serventia material e imediata: esse é o mundo do empirismo e do utilitarismo. Será que estamos vendo o mundo tal como ele de fato é?
Perguntaram ao Bruno Tolentino pra que é que servia a poesia e a resposta foi um tanto quanto poética: “para nada”. O poeta estava justamente tocando na ferida sem que o entrevistador se desse conta, pois ao dizer que a poesia não serve para nada ele estava indicando justamente que ela não é uma ferramenta com a qual se constrói um prédio, mas uma expressão de impressões.
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O mundo pode e deve ser usado como instrumento e ferramenta sem sombra de dúvidas, mas reduzi-lo ao mero utilitarismo é apagar do nosso campo de visão o seu aspecto poético que não “serve para nada” a não dar voz aos desejos e temores do homem, o que não é pouca coisa. Pode parecer besteira aos nossos ouvidos, mas ver o mundo como um mistério a ser perscrutado muda a nossa forma de se relacionar com ele. Aristóteles dizia que toda filosofia começa com o espanto, e ele se referia justamente ao impacto que as coisas criadas podem gerar na alma individual: a intimidade espiritual só é possível na o contemplação, não na ação.
E se as vezes Deus nos tira a poesia e a pedra parece só pedra mesmo, imagine o que é que acontece com as relações entre pessoas. Estamos tão tomados pelo nosso egoísmo pueril que sequer conseguimos perceber o outro como um mistério, como um alguém digno de ser conhecido e amado. Perdemos a nossa capacidade de olhar o outro “sub specie aeternitatis” e o reduzimos ao quanto de prazer que ele pode nos dar.
É claro que o prazer faz parte da relação entre duas pessoas, principalmente da relação sexual. Os puritanos erram quando excluem o prazer do ato sexual. A diferença é que esse prazer é uma fruição da pessoa do outro, e não uma utilização dos seus aspectos mais materiais. O amor humano implica uma relação com toda a pessoa, caso contrário esse amor se perverte em ausência de poesia, em negação do mistério, em cegueira e egoísmo. O que é a pornografia senão a filmagem da irresponsabilidade e do egoísmo?
O mundo não é um conglomerado de ferramentas estáticas e imóveis, ele é um convite constante à contemplação e ao amor. No mundo real, o homem pode amar na medida em que se relaciona com o outro por inteiro e isso é ser minimamente responsável. Mas na fantasia do utilitarismo, o homem é condenado a passar o resto da sua vida na cela solitária. O homem utilitarista se tornou um ciclope de um olho só: tudo vira um eterno venha a nós. E não há nada mais pornográfico do que isso.
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